Magick

O Que é Magick

Se Thelema fosse um carro, o Magick seria o motor. Ou, se preferir, o conjunto de ferramentas. A filosofia de Thelema diz que você tem uma Verdadeira Vontade — mas não basta saber disso intelectualmente. É preciso agir, transformar, realizar. É aí que entra Magick.

Aleister Crowley definiu Magick como:

“A ciência e a arte de causar mudanças em conformidade com a Vontade.”
– Magick in Theory and Practice

Perceba: não tem nada a ver com “varinha de condão” ou “encantamento de filme”. Magick, com “k”, é o conjunto de técnicas — práticas espirituais, mentais e físicas — para descobrir a Verdadeira Vontade de alguém e vivê-la plenamente. Ou seja, Magick é o processo de afinar o ser humano com a sua própria natureza mais profunda. É tanto ciência quanto arte. É tanto prática quanto êxtase. É tanto disciplina quanto liberdade.

Como funciona?

Crowley organiza o sistema mágico em degraus, cada um com seus próprios métodos e desafios. Mas, simplificando brutalmente, podemos dividir em três grandes estágios:

1. Conhecimento de si mesmo

Aqui a ideia é limpar o terreno. Isso envolve rituais de purificação, meditação, autoanálise, invocação de forças que te ajudam a entender quem você realmente é — sem as máscaras sociais, sem o ego inflado, sem autoengano.

2. Conhecimento e Conversação com o Sagrado Anjo Guardião

Esse é o grande objetivo da fase inicial do caminho. O Santo Anjo Guardião (ou SAG) é aquilo que, em outras tradições, poderia ser chamado de Eu Superior, Daimon, Augoeides. É a ponte entre a sua consciência humana e sua Verdadeira Vontade. Estabelecer essa conexão é o “meio do caminho” no sistema thelêmico.

3. Cruzamento do Abismo e União com o Verdadeiro Eu

Depois de encontrar o SAG, vem a parte mais temida e mística: o enfrentamento com o “Abismo” — que representa o colapso do ego e o abandono do senso de separação. Aqui se encara Choronzon, a personificação do caos mental, da confusão e da ilusão. Se você atravessa o Abismo, torna-se um “Mestre do Templo” — alguém que vive totalmente de acordo com a Vontade e já não age por ego ou desejo pessoal.

Quais são os métodos?

O sistema de Magick é intencionalmente eclético. Ele incorpora práticas de várias tradições — hinduísmo, budismo, alquimia, cabala, cristianismo místico, yoga, hermetismo, astrologia, etc. Não existe uma lista obrigatória, mas entre as técnicas mais comuns estão:

  • Rituais simbólicos (como o Rubi Estrela ou o Liber Samek)
  • Invocações e banimentos
  • Meditação (muitas vezes inspirada em técnicas do Raja Yoga)
  • Visualização criativa
  • Práticas devocionais
  • Estudo dos textos sagrados (Thelema e outros sistemas)
  • Diálogo com entidades metafísicas (deuses, espíritos, daemos etc.) ou arquétipos
  • Astrologia, Cabalá, tarot e numerologia
  • Diários mágicos rigorosos
  • Autoexploração psicológica profunda

E sempre, sempre com o objetivo de realizar a Verdadeira Vontade e de manter harmonia com o Todo.

No curto prazo, o objetivo é autoconhecimento com profundidade suficiente para transformar sua vida. É se alinhar com a Verdadeira Vontade — o que, na prática, traz clareza, paz, força, propósito.

No longo prazo? Thelema é ousada: propõe nada menos que a divinização do ser humano. Não no sentido de virar um deus ególatra, mas no sentido de integrar a consciência individual com o fluxo cósmico. De viver como uma estrela no firmamento — única, livre, radiante, sem invadir a órbita alheia.

“Todo homem e toda mulher é uma estrela.”
– Liber AL vel Legis, I:3

O que Magick NÃO é

  • Não é “fazer feitiço” pra conseguir namorado ou emprego.
  • Não é “manifestar” desejos rasos com pensamento positivo.
  • Não é um sistema fechado com dogmas rígidos.
  • Não é algo que só funciona se você “acreditar”.
  • Não é escapismo espiritual.

Magick é o trabalho árduo de se tornar quem você é. É autoconhecimento com consequência. É espiritualidade com os pés no chão.

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